quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O papel rasgado da ONU


            Surgiram novamente notícias de que a Coreia do Norte bombardeou território sul-coreano. Pyongyang diz que foram disparados tiros na direcção do seu território, Seul diz que não, confirma que havia um exercício militar na zona mas não foram disparados para a Coreia do Norte. Uma coisa é certa: os coreanos não se entendem.
            Mas que os coreanos não se entendem já toda a gente sabe, o que eu pergunto è qual é o papel da ONU, e consequentemente do Conselho de Segurança, em relação a esta situação, e quem diz a esta diz a muitas outras espalhadas pelos vários cantos do Mundo.
            A mim a ONU parece-me um pró-forma, um sítio onde uns senhores de fato e gravata discutem questões importantíssimas para a ordem mundial, com opiniões bastante válidas, mas que ou ficam no papel ou nem sequer chegam a ser postas em papel. Ora numa organização criada no pós II Guerra Mundial com o intuito de arbitrar as relações internacionais o trabalho revela-se escasso.
Se nos primeiros anos de existência da organização havia a Guerra Fria que dificultou o trabalho da ONU, actualmente parece não existir nenhum entrave de maior à autoridade que a ONU deveria ter, pelo menos de forma visível.
O que quero dizer com isto é que preocupa que alguns conflitos internacionais se possam gerar devido à inércia da ONU, bem com da comunidade internacional em geral.
Exemplifico. Os EUA decidem invadir o Iraque sem consentimento do Conselho de Segurança da ONU e o que acontece: nada. O Irão tem instalações para construção de armas de destruição em massa e o que acontece: uma multa pecuniária irrelevante face à gravidade dos factos. A Coreia do Norte ameaça ao mesmo estilo do Irão, gerando uma constante tensão na região e o que acontece: nada de significativo. E muitos mais exemplos existem certamente.
Mas como pode a ONU funcionar quando um dos seus membros permanentes do Conselho de Segurança é o primeiro a infringir a principal bandeira da organização - a Declaração Universal dos Direitos do Homem - como é o caso da China.
Com toda a certeza considero a ONU uma organização primordial na nova ordem mundial que esta a nascer, assente na política transnacional, mas por enquanto apenas a nível de conceito. No entanto, espero que a curto prazo a acção desta se torne efectiva, e que consiga mediar efectivamente as relações internacionais, bem como punir os infractores.
Mas se por um lado a ONU parece a meio gás por outro realiza um papel exemplar na área humanitária, com organizações como a Unicef, a Unesco e OMS, entre muitas outras que tem sob a sua chancela.       


Ricardo Soares

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Al Gore - O ambiente também conta

            Al Gore tem vindo a travar desde há alguns anos aquela que poderá ser a luta do futuro. Sabemos que neste momento a crise económica é, sem sombra para dúvidas, o principal problema da humanidade na actualidade, no entanto, a longo prazo as questões ambientais terão de ser tidas em conta, caso contrário corremos o risco de perdermos os recursos naturais e condições ambientais indispensáveis à sobrevivência humana.

            Albert Arnold “Al” Gore desde cedo mostrou interesse pelas causas ambientais, mas é a forma tradicional de política que o revela às luzes da ribalta. Foi Vice-Presidente da Administração Clinton entre 1993 e 2001 e concorre à Presidência dos EUA nas eleições de 2001 pelo Partido Democrata, saindo derrotado por George W Bush, num acto eleitoral envolto em polémica.
            Com a derrota nas presidenciais de 2001 Al Gore abandona o palco principal da política, virando baterias para o meio ambiente, retomando o papel de activista ecológico, que recuperou do inicio da sua carreira política, no qual escreveu o livro A Terra em Balanço: Ecologia e o Espírito Humano. É na mesma linha de pensamento que surge que, em 2006, surge o documentário Uma Verdade Inconveniente, que o devolve de novo à esfera pública mediática.
            O documentário surge no seguimento de uma série de conferências em que o activista participa por todo o mundo, nas quais alerta para os perigos da degradação ecológica do planeta e das consequências que daí surgiram e que diminuíram em muito a qualidade de vida da espécie humana, já para não falar nas outras espécies.
            Em 2007, fruto da sua intervenção ecológica, recebe o Prémio Nobel da Paz em parceria com o Comité Intergovernamental para as Alterações Climatéricas da ONU.

            O ser humano formata a sua em vida em torno de um sistema hierarquizado de necessidades, assim, quando vê uma necessidade saciada altera o seu rumo em busca de outra.
Se durante muito tempo os homens lutaram pelos seus direitos. liberdade e segurança, hoje em dia, com essas necessidades satisfeitas, exceptuando os beliscões que a democracia sofre de tempos a tempos, a orientação da vida humana surge na direcção do conforto baseado nos bens materiais e constante aumento da riqueza. Mas como somos um animal de necessidades que somos nunca estamos realmente satisfeitos não sabemos quando parar, o que provocará graves danos no planeta Terra, danos para os quais Al Gore tanto alerta.
O que a realidade futura nos mostrará é que seremos obrigados a alterar as nossas prioridades, dando mais importância ao meio ambiente, no entanto, como no inicio do texto é dito, as necessidades dos Homens estão viradas para os problemas da grave crise económica. Mas não poderá ser esta falência das economias modernas o mote para o inicio de uma nova hierarquia de necessidades em que o meio ambiente esteja mais presente?
Poder podia, mas não era a mesma coisa. É que viver sem os luxos do desenvolvimento imponderado é tão difícil…  




O Elephante 

sábado, 20 de novembro de 2010

Portugal é de quem?



Com a ditadura fascista éramos um país tão fechadinho que ficámos atrasados, passados 36 anos de democracia somos um país tão aberto que já nem manda-mos em nós, andamos ao sabor do vento, vento que se chama UE, NATO, OMC, etc.

Hoje o ministro da defesa Augusto Santos Silva veio dizer que ainda não sabe quanto é que Portugal vai pagar pelo escudo de defesa antimíssil, no entanto, já sabe que Portugal vai pagar, não sabe é quanto! O ministro diz que o preço, que ainda não se sabe, vai valer a pena, porque proteger toda a população de uma ameaça compensa, independentemente do custo. Mesmo que Santos Silva não concordasse com isto - e poderá não concordar - o que é que mudaria? Absolutamente nada. Tinha de o dizer, ou ia em plena cimeira da NATO afirmar que o escudo antimíssil não faz falta a Portugal, pelo menos para já, que se vive uma época em que a população está sujeita a um esforço tremendo, ia? Claro que não!
Não quero tomar nenhuma posição em relação à participação de Portugal na compra do escudo anti-míssil, quero apenas alertar que o nosso país está progressivamente a perder soberania enquanto estado-nação, muito por causa da adesão a certas organizações que de democráticas têm pouco, são imperialistas, servem os interesses dos países que têm mais poder dentro de si, é escusado nomeá-los, e rebocam os pequenos países a seguir as mesmas medidas, não têm outra alternativa.
Faz-se um OE, e obrigatoriamente temos de o levar aos senhores da Europa para o corrigirem. Estamos endividados até ao pescoço por causa da crise que não provocámos, vem cá a China “ajudar-nos”, agora vamos ter de obedecer a mais uma potência como se já fossem poucas. Eventualmente chegará o FMI, mais um bicho que vem impor as suas regras aos portugueses. Portugal está a deixar de ser dos portugueses, parece uma loja quando é “trespassada”, até Timor, um dos países mais jovens do mundo, com cerda de 1 milhão de habitantes, se tornou num eventual comprador da divida portuguesa.

Vida difícil terão os políticos que irão herdar este cenário, causado nos últimos anos pelos cegos que queriam acompanhar a toda a força o crescimento europeu, não prevendo o custo que Portugal está hoje a pagar, tornando o país num satélite dominado pelos grandes do ocidente, e não só. Nas grandes questões, os políticos portugueses são agora uns meros mensageiros.


Francisco Esteves

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

NATO, ide tomar na bunda !

Vivemos num momento de crise. Portugal, coitadinho, está quase como a Irlanda embora os nossos responsáveis governativos afirmem que fazer tais comparações é algo de ridículo. O próprio Nouriel Roubini, economista e um dos homens que por acaso até previu esta "doença" económica com epicentro nos EUA, afirma que Portugal vai em breve perder acesso aos mercados e, então, terá de recorrer ao FMI. Pode ser que ele se tenha enganado, coisa que aparentemente não faz muito, e isto melhore.


Todavia, com Roubini ou sem ele, a crise anda por aqui como um "dementor" vagueia pelo Harry Potter. Assustadora, sombria e capaz de levar a "morte financeira" a muito boa gente. O país responde gastando ainda mais dinheiro para organizar este belo espectáculo no Oriente: a cimeira da NATO.


Ainda hoje ia eu no meu belo percurso de autocarro para a Cidade Universitária que, normalmente, demoro 10 minutos a concluir, quando começo a notar que os carros teimosamente não andavam. Buzina aqui, buzina acolá, e lá passa uma comitiva a tentar "furar" o tráfego todo. Claro, com a polícia ao "tinoni" a malta teve de se desviar e deixar as excelências passar. O resultado foi um bonitos caos automobilístico que me esticou o percurso em mais 20 minutos. Meia hora sentado, a ver luzinhas azuis passar.

Talvez a minha indignação com estas parvoíces seja defeito meu. Uma moça com os seus 20 e poucos anos ia ao telemóvel e começa a gritar "ANA, ANA, vou ver o OBAMA!". Isto porque apareceram duas motorizadas da polícias, dois carros patrulha, dois Audis e quatro Mercedes.

As pessoas, parecendo que não, gostam disto. Todavia, esta festa imperialista custa dinheiro. Dinheiro esse que, curiosamente, faz falta a um país à beira da banca rota. E anda a pagar-se para estes senhores estarem cá dois dias a discutir temas como a "proliferação das armas de destruição maciça". Serão, certamente, as mesmas armas que estavam no roupeiro do Saddam e que, vá-se lá saber porquê, nunca foram encontradas. Uma coisa muito ao estilo Maddie, mas sem Gonçalo Amaral.

Hoje lá estiveram a conversar e a tirar umas belas fotos (que, na minha opinião, é o que qualquer turista faz no Parque das Nações). A cidade praticamente parou para os senhores irem à cimeira e voltarem aos hotéis. Fazendo uma avaliação algo leviana, o que trouxe esta cimeira à nossa bela vida?

- problemas com o trânsito
- grandes líderes internacionais
- histeria desnecessária
- visibilidade internacional
- manifestantes

Destes seis pontos que, levianamente, identifiquei em 32 segundos não consigo nomear um que nos ajude realmente a combater a situação que atravessamos. Temos problemas de sobra com o trânsito, líderes internacionais que nos visitam noutras alturas do ano, histeria já instalada com a ameaça de banca rota, visibilidade a nível Mundial devido às belas contas públicas e manifestantes, que ainda há uns dias se fizeram ouvir acerca do Ensino Superior.

Por mim a NATO pode fazer as festas que quiser, colocar na "guest" aqueles que bem entender, mas sem me aborrecer. Ainda por cima eu, que habito perto da embaixada americana, sujeito a levar um balázio porque corria para apanhar o autocarro mas a autoridade interpretou tal acto como fuga a uma bomba colocada sabe-se lá onde.


Pedro Paradinha

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ensino Superior - Protestar sobre o quê?


            Realizou-se hoje mais uma manifestação nacional dos estudantes do Ensino Superior. A Associação Académica de Coimbra, organizadora do protesto, fez um balanço positivo da acção, que afirmou ter entre seis e sete mil participantes, ao contrário das informações fornecidas pela PSP, que contou cerca de cinco mil participantes, nas já habituais informações divergentes entre as instituições.
            Numa altura em que crise afecta a maior parte da população portuguesa, e sabendo-se das dificuldades que a classe dos estudantes sempre ultrapassou, os estudantes mobilizaram-se num número interessante na luta pelos seus direitos. Se o número de estudantes é interessante, a maior parte revindicações não me parecem muito interessantes, sobretudo num momento em que o país ultrapassa graves problemas e se pedem sacrifícios em todos os quadrantes da sociedade. É obvio que os estudantes, em particular os do Ensino Superior, fazem sacrifícios há muitos anos, e pesados, mas apesar disso, as revindicações parecem-me exageradas, nomeadamente por serem opostamente radicais às políticas actuais. Mas já o povo diz: “se queres uma mão pede as duas”, só assim é compreensível o protesto.
            Relativamente às medidas, estou de acordo com o protesto contra Bolonha, pois em nada veio beneficiar o Ensino Superior português, pois desvalorizou em muito a Licenciatura, tornando o Mestrado num imperativo estatístico de grau académico em vez dum enriquecimento na formação académica, visto este se centrar em matérias antes leccionadas na Licenciatura. Entre muitos pontos negativos de Bolonha encontramos um positivo: a mobilidade facilitada pelo programa Erasmus, mas o facto de ir estudar para outro país não pode penalizar aspectos muito mais importantes do percurso académico de cada um.
            Mas o que mais mobiliza os protestos são as políticas relativas às propinas e à acção social, e ai as posições podem ser muito polémicas. Na manifestação aclamou-se pelo fim das propinas, mas tal é impraticável neste contexto. Apesar de a nível constitucional estar previsto que o ensino deve ser tendenciosamente gratuito, penso que nas condições actuais as propinas deveriam ser progressivas, ou seja, adaptar a propina a ser paga por cada um aos rendimentos que o sustentam. Deste modo, haveria estudantes a pagar muito pouco, os que menos capacidade financeira, e outros a pagar quase na totalidade os encargos que cada estudante do Ensino Superior custa ao Estado, aqueles que têm elevada capacidade financeira.
            Aliada a esta medida, seria a correcta distribuição de bolsas de estudo, as quais incompreensivelmente sofrem cortes quando os estudantes mais necessitam delas, visto alunos que necessitam de bolsas não as têm mas outros têm-nas de forma fraudulenta, mas este assunto daria pano para mangas. Por fim, apenas revelar a minha incompreensão com o facto de parte do valor das bolsas não ser automaticamente deduzidas no valor das propinas e com isso facilitar fraudes.


Ricardo Soares

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O poder dissimulado da Religião

           À medida que a sociedade vai evoluindo a religião vai perdendo poder de decisão sobre os assuntos estruturantes que esta enfrenta.

 A ruptura entre Estado e religião dá-se com a laicização do Estado de Direito, que se pretende independente de outras instituições, perdendo assim a religião o poder que manteve durante séculos, em que as instituições religiosas ditavam as normas de funcionamento de sociedades com os olhos vendados.
            Se o Estado e a religião se separaram o mesmo não aconteceu com a religião e a sociedade. À primeira vista, esta pode ser uma ideia um pouco contraditória, visto Estado e sociedade possuírem fronteiras difíceis de separar, no entanto, o que se quer afirmar é que num plano formal, ou seja o Estado, as crenças religiosas deixaram de intervir na política, mas ao invés, na prática, a vivência numa sociedade é imensamente condicionada pelas crenças religiosas. Ou não é a moral de cada sociedade construída com base em crenças religiosas do que é o bem ou o mal? Crenças que de tão enraizadas na sociedade parecem independentes de qualquer influência. A verdade é que a moral é formada na religião.
            Sustento esta ideia com o seguinte: numa altura em que a diversidade de povos e culturas dificultava o controlo de massas as diferentes religiões têm um papel fundamental na manutenção da norma. São as religiões que formulam uma série de regras e costumes que indicam às pessoas o caminho que estas devem percorrer, que comportamento é aceite ou considerado desviante, e fazem-no de forma repressiva e coercitiva, com ameaças e punições.
Nesta perspectiva a religião não é a forma mais eficaz de controlo de massas?
            A resposta é dada mostrando a forma como se legisla. Não são os Dez Mandamentos do Cristianismo que influenciam quase na totalidade as Constituições e Códigos Penais dos países ocidentais? Os países árabes não estão constituídos de acordo com o que as Suras que Maomé revela no Al Corão? Não estão as sociedades assentes no mesmo jogo de poder ameaçador e repressivo que nos “aconselha” a escolher o que dizem ser o melhor caminho?
            Com isto não se quer dizer que as sociedades pós-modernas se regem exclusivamente pela fé e crenças religiosas - felizmente as sociedades já não estão vendadas - a exemplo disso movimentos liberais como a abertura do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao qual a Igreja se opôs fortemente, a conclusão a que se pretende chegar é que se os Estados são laicos, das sociedades já não se pode dizer o mesmo, uma vez que a religião está presente nos recantos desta, de forma mais ou menos dissimulado. Portanto a frase inicial do texto revela a forma dissimulada que a religião foi construindo para exercer a sua influência, pois a sua força está na forma como nós afirmamos assertivamente aquela frase sem nos apercebermos que em parte ela é uma ilusão. 


O Elephante