terça-feira, 16 de novembro de 2010

O poder dissimulado da Religião

           À medida que a sociedade vai evoluindo a religião vai perdendo poder de decisão sobre os assuntos estruturantes que esta enfrenta.

 A ruptura entre Estado e religião dá-se com a laicização do Estado de Direito, que se pretende independente de outras instituições, perdendo assim a religião o poder que manteve durante séculos, em que as instituições religiosas ditavam as normas de funcionamento de sociedades com os olhos vendados.
            Se o Estado e a religião se separaram o mesmo não aconteceu com a religião e a sociedade. À primeira vista, esta pode ser uma ideia um pouco contraditória, visto Estado e sociedade possuírem fronteiras difíceis de separar, no entanto, o que se quer afirmar é que num plano formal, ou seja o Estado, as crenças religiosas deixaram de intervir na política, mas ao invés, na prática, a vivência numa sociedade é imensamente condicionada pelas crenças religiosas. Ou não é a moral de cada sociedade construída com base em crenças religiosas do que é o bem ou o mal? Crenças que de tão enraizadas na sociedade parecem independentes de qualquer influência. A verdade é que a moral é formada na religião.
            Sustento esta ideia com o seguinte: numa altura em que a diversidade de povos e culturas dificultava o controlo de massas as diferentes religiões têm um papel fundamental na manutenção da norma. São as religiões que formulam uma série de regras e costumes que indicam às pessoas o caminho que estas devem percorrer, que comportamento é aceite ou considerado desviante, e fazem-no de forma repressiva e coercitiva, com ameaças e punições.
Nesta perspectiva a religião não é a forma mais eficaz de controlo de massas?
            A resposta é dada mostrando a forma como se legisla. Não são os Dez Mandamentos do Cristianismo que influenciam quase na totalidade as Constituições e Códigos Penais dos países ocidentais? Os países árabes não estão constituídos de acordo com o que as Suras que Maomé revela no Al Corão? Não estão as sociedades assentes no mesmo jogo de poder ameaçador e repressivo que nos “aconselha” a escolher o que dizem ser o melhor caminho?
            Com isto não se quer dizer que as sociedades pós-modernas se regem exclusivamente pela fé e crenças religiosas - felizmente as sociedades já não estão vendadas - a exemplo disso movimentos liberais como a abertura do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao qual a Igreja se opôs fortemente, a conclusão a que se pretende chegar é que se os Estados são laicos, das sociedades já não se pode dizer o mesmo, uma vez que a religião está presente nos recantos desta, de forma mais ou menos dissimulado. Portanto a frase inicial do texto revela a forma dissimulada que a religião foi construindo para exercer a sua influência, pois a sua força está na forma como nós afirmamos assertivamente aquela frase sem nos apercebermos que em parte ela é uma ilusão. 


O Elephante

Sem comentários:

Enviar um comentário