terça-feira, 26 de outubro de 2010

Santo povo, maldita corrupção!

O mais recente relatório da organização não-governamental Transparência Internacional - Índice de Percepção da Corrupção (IPC) 2010 - revela que Portugal é o 35.º país com mais transparência no sector público num universo de 178 países observados. À partida este seria um bom indicador, no entanto, Portugal é o segundo país da Europa Ocidental pior classificado, só a Itália está pior. Mais um mau indicador a nível internacional para o nosso país, uma vez que o relatório é feito com base em 60% de visões externas sobre Portugal.
           
Numa altura em que estamos sob o foco internacional devido aos problemas financeiros que sofremos, e quando decorrem as negociações entre Governo e PSD para a mais que vital viabilização do OE, o IPC de 6 pontos (escala de 1 a 10, sendo o 10 o menos corrupto), levanta novamente a questão da corrupção à volta da política.
            Num país em que a voz popular afirma frequentemente que os políticos “são uma cambada de corruptos e ladrões”, é paradoxal como surgem depois episódios de fervoroso apoio popular a políticos condenados em Tribunais de Primeira Instância, que são eleitos com maiorias esclarecedoras como, por exemplo, o caso de Isaltino Morais na CM Oeiras.
            Apesar disto, o mais preocupante não é o facto de haver políticos corruptos – de certeza que os há, como também existem muitos outros honestos – aquilo que mais afecta a sociedade portuguesa é a atitude mesquinha com que se fala da corrupção.
Ora vejamos: a corrupção na política é um problema grave mas não é mais do que o reflexo da sociedade portuguesa, pois é o comum cidadão o primeiro a corromper o sistema pela base. E a base de qualquer sociedade não pode ser os seus corpos políticos, mas sim a população, e é gravíssimo quando essa mesma população comunga de um conjunto de valores que a formata para sempre que possível não pagar impostos, fugir a uma multa ou entrar num jogo de interesses pessoais. A corrupção no topo da pirâmide é apenas o reflexo da base, só que à escala do poder que existe no topo da pirâmide.
Falar sobre corrupção parece comum nas conversas do dia-a-dia, no entanto, o que a maior parte das pessoas se esquece é de falar no vizinho que está a trabalhar mas não faz os seus descontos para a Segurança Social, no amigo que pagou o jantar a um polícia para este lhe desculpar uma multa ou mesmo de si próprios que pediram uns favores na Câmara Municipal para construírem a sua casa. E por incrível que pareça a muita boa gente isto também é corrupção. E sim, é esta a nossa sociedade. É pena, mas é a verdade.

Outros destaques acerca do Índice de Percepção da Corrupção:
·         Altos níveis de corrupção nos países lusófonos, com especial destaque para Angola (1,9) e Brasil (3,7) dois países com altas taxas de crescimento;
·         Os países do leste europeu, especialmente os ex membros da URSS, apresentam altos índices de corrupção, influência do processo de desmoronamento do sistema designado comunista. (ex: IPC de 2,1 na Rússia);
·         Os países onde a corrupção é menos visível são a Dinamarca e a Nova Zelândia, com um IPC de 9,3. No sentido inverso, a Somália é o país onde a corrupção está mais activa;
·         Destaque ainda para os Estados Unidos com um IPC de 7,1 na 22.º posição e para a China na 78.º posição (3,5).

Clique no link abaixo para ver o relatório na integra


O Elephante

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