segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sec. XXI - A revolução ainda existe, Liu Xiaobo

Liu Xiaobo

"Acredito firmemente que o progresso político da China nunca parará e estou muito optimista quanto à chegada da liberdade à China, porque nenhuma força pode bloquear o desejo humano de liberdade"

Liu Xiaobo é um escritor, comentador e activista político. Esta última actividade proporcionou-lhe dois acontecimentos recentes: a sua prisão em 2008 (pela 4ª vez) e o prémio Nobel da Paz de 2010 (Que mundo louco, enquanto uns o premeiam pela sua luta pela paz, outros o condenam por actividades subversivas).
O seu activismo em território chinês teve inicio em 1989, quando se encontrava fora do país e regressou com o único propósito de participar nos protestos da Praça da Paz Celestial, que posteriormente ficou conhecido como o massacre de Tian'anmen. No plano individual, a participação no protesto valeu-lhe a sua primeira condenação e cumprimento de pena de prisão durante 1 ano e 6 meses.
Toda a intervenção política de Liu teve o seu reconhecimento quando o Comité norueguês lhe atribuiu o Nobel da Paz, justificando-o dizendo que “Liu Xiaobo foi distinguido pela sua luta longa e não violenta pelos direitos fundamentais da China". Liu Xiaobo foi um dos principais redactores da Carta 08, que foi concebida em alusão famosa Carta 77 lançada por Vaclav Havel na antiga Checoslováquia socialista, a carta 08 proclama a reforma política e a democratização da república popular da China, exigindo ao governo a autorização do multipartidarismo, um sistema judicial independente, liberdade de religião, de expressão, de associação e de imprensa.
Xiaobo é mais um cidadão chinês que vive ideológica e intelectualmente num mundo mais avançado no tempo que as elites politicas que controlam o seu país. Ao contrário destas, o mais recente Nobel da Paz não estagnou numa era em que o pluralismo e a liberdade eram avistados pelos chineses ao longe na linha do horizonte. Xiaobo e outros corajosos opositores do regime optaram por fazer a viagem até à linha do horizonte e proclamar os direitos e liberdades individuais para a China, já as elites dominantes escolheram ficar no conforto dos seus cargos, onde a opressão os mantinha intocáveis.   
Mas o que torna Liu diferente daqueles que com ele fizeram esta caminhada? Para além da sua constante e intensa luta contra as ideologias dominantes, desempenhado papel de protagonista nas principais acções de tentativa de democratização da China, como na Carta 08, Xiaobo teve aquilo a que muitos grandes homens ficaram privados: teve reconhecimento por um trabalho que sendo para o bem universal o tem prejudicado bastante a nível pessoal. Paradoxal não é? Muito, e por isso é que o reconhecimento que o prémio Nobel traz à sua personalidade é tão importante, porque mais que reconhecimento individual traz visibilidade a uma batalha que se disputa por entre interesses económicos, que a poderosa China capitalista desperta no mundo ocidental, o que camufla os problemas que a população chinesa enfrenta diariamente.
Ao contrário do Nobel da Paz anterior, entregue a Obama, que enviava ao mundo uma mensagem de esperança, a designação deste ano alerta para a crescente desumanização da política internacional, visto a principal bússola desta começar a deixar de apontar para a verdadeira essência humana e se desviar para outros interesses, pois os principais países do mundo fecham os olhos a situações como estas para salvar economias públicas e privadas.
Ao fim de tantas conquistas pelas liberdades individuais que a nossa sociedade já viveu, Liu Xiaobo surge como um “lembrete” que todos devíamos ter no carro, no espelho, no frigorífico ou ate no Facebook, de que a liberdade não deve ser vista como um direito adquirido mas como uma luta que temos de enfrentar constantemente.          



O Elephante


2 comentários:

  1. O aumento de liberdade na China é tão rápido como a velocidade de uma bala!!!!

    Tiago Cardoso

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  2. Comparado com o crescimento económico é tão lento como um caracol!

    Francisco Esteves

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